domingo, 13 de janeiro de 2008

O encontro

E depois de tanto ansiar, o desperatdor tocou. Ela acordou de seus pensamentos envolventes e começou uma sequência de gestos, afazeres, uma rotina.
O sono já acabara naquela manhã, mas de lá até aqui, com algumas horas decorridas, ela nada fizera além de pensar, refletir, analisar, programar, esquematizar tudo aquilo a que agora dera início.
Levantou-se da cama, dirigiu ao pequeno compartimento no fundo do quarto e tirou do cabide o vestido já passado, a ferro, havia dias. Bege, discreto como ela, sem expor na cor nenhum tipo de emoção, sem mostrar a personalidade. Neutra. A cor e ela.
Despiu a camiseta branca e se pôs dentro do vestido liso, até o joelho. Calçou o sapato do mesmo tom, sem brilho, sem nada.
Encaminhou-se então para o espelho, olhou e abriu um sorriso ao mesmo tom da roupa.
Ela não gostava de maquiagem, no máximo uma base para ajeitar o tom da pele. Tudo em harmonia, nada em destaque..era seu lema.
Passou a manteiga de cacau e se pôs a procurar o tal brinquinho pequeno, presente do pai quando completara 10 anos, 7.3oo dias antes de hoje. Custou a achar, e isso fora do lugar, depois de tanto arquitetar a emergiu em alguns instantes de desespero. Achou-os por fim caídos no chão ao lado de onde calçara os sapatos de pequenos saltos.
Já ia ao encontro da bolsa daquela cor quando tocou o telefone, atendeu de sopetão e não pode disfarçar o tom de desapontamento quando reconheceu a voz do pai, e a mãe ao fundo. Desejaram-lhe felicidade, sucesso e saúde. Ela chegou a se questionar se já não provara a eles possuir tudo isso, não era isso que lhe faltava. Quem sabe se alguém acertasse no desejo, quem sabe?
Desligou então alegando estar atrasada para o tal encontro.
Desceu as escadas do quarto, entrou na sala com a maior leveza. A mesa posta, as velas acesas, o cenário ideal, mas sem cor, sem sentimento, sem nada que não fosse algumas pedrinhas entaladas na garganta.
Sentou-se à mesa e como num estalo, prendeu sua atenção ao aquário, de vidro, a dar destaque ao único corpo em tom diferente. Laranja, prendeu-se ele em seus olhos castanhos.
Glub. Glub.

Um comentário:

Unknown disse...

acabou que afoguei
o melhor texto eleito pela sami, e olha que não é pouca porcaria =)